Hoje os desequilíbrios sociais e ambientais
ameaçam o desenvolvimento seguro e saudável de nossa sociedade. Por isso, muitas
estratégias estão sendo usadas por governos, empresas e instituições sociais
para a promoção da sustentabilidade. Entre essas estratégias destacam-se as
Redes de Desenvolvimento Local. Essas Redes são organizações autônomas entre os
vários setores do Estado, empresas e inúmeras instituições da sociedade civil,
que se articulam em determinadas regiões, na busca do desenvolvimento
sustentável e da qualidade de vida.
Com a globalização, fica cada vez mais
evidente e direta as conexões existentes entre a realidade Local e Global. Como
diria Milton Santos, Cada Lugar é o Mundo. Percebemos, através dos noticiários
internacionais, como os efeitos do aumento da taxa de juros nos Estados Unidos,
o Crescimento do PIB da China, ou um conflito no Oriente Médio pode afetar
diretamente as nossas vidas. No entanto, percebemos pouco as conexões
existentes entre as nossas ações diárias e as decisões que são tomadas
mundialmente. Nossas decisões de consumo norteiam os investimentos das empresas
na produção, no design dos produtos e na busca por sustentabilidade. Em uma
sociedade fortemente influenciada pelos meios de comunicação, nossa reação ao
que é apresentado, através da audiência radio televisiva, no acesso aos sites,
ou no consumo de jornais e revistas, entre outras formas de comunicação, também
direcionam a produção destes conteúdos midiáticos. Nossa participação na
política, não só nos momentos eleitorais, mas no acompanhamento e pressão
diária sobre os que ocupam cargos públicos, determinam nosso modelo de Estado.
A redução no consumo de água, energia, a reciclagem do lixo que produzimos, a
substituição do automóvel pela bicicleta e pelo transporte público, tem impacto
significativo na preservação do o meio ambiente. Sabemos como a prática de
exercícios físicos, os bons hábitos de higiene e uma alimentação de qualidade
melhoram a saúde e tem impacto direto na redução do número de doenças de todos
os tipos. Muitos estudos também mostram como a participação da família e da
comunidade na escola ajudam a melhorar os indicadores de qualidade na educação.
Bairros mais solidários e com maior presença do Estado e de políticas públicas
são menos violentos. A educação no transito diminui significativamente o número
de acidentes, o que tem impacto até na previdência social. Enfim, boas práticas
mudam o mundo. Gente desconhecida realizando ações aparentemente
insignificantes mudam o mundo.
Com objetivo de estimular essas boas práticas
é que surgem as redes de desenvolvimento local. E o melhor lugar para promover
boas ações de todos os tipos é o bairro, a região em que vivemos, através dos
equipamentos públicos, das organizações da sociedade civil, das empresas e das
pessoas de boa vontade que já realizam algum tipo de ação socioambiental nesse
território. As redes de desenvolvimento local surgem para ajudar a articular,
organizar, otimizar e impulsionar essas ações, pessoas e organizações.
Muitos urbanistas dizem que as cidades
modernas são repletas de “não lugares”, ou seja, espaços onde as pessoas estão,
mas quase não estabelecem nenhum tipo de relação social ou afetiva. Alguns exemplos
são o pátio de uma rodoviária ou um saguão de hotel ou aeroporto. As redes de
desenvolvimento local se propõem a transformar os espaços em “ Lugares” de
convivência, onde as pessoas interajam, discutam seus problemas e busquem
soluções de forma coletiva. Promovam a cidadania, o bem comum, realizem ações
concretas através de projetos diversificados e busquem o desenvolvimento
sustentável e a qualidade de vida para a região onde vivem.
Entre as inúmeras vantagens que essa forma de
organização pode trazer destacamos: Qualificação
das organizações para uma melhor intervenção em seus territórios; promoção de
uma cidadania ativa entre os moradores da região; troca de experiências
positivas dentro das redes e formação de parcerias para a execução de projetos; estimula o trabalho cooperativo; potencializa
núcleos já existentes de fomento a saúde, educação, cultura, esporte, geração
de emprego e renda, combate a violência e ao tráfico de drogas, entre outros.
Em Campinas muitas regiões já possuem esse tipo
de organização, como a Rede Social da Região do São Quirino, a Intersetorial do
Campo Grande, a Rede Abraço na região dos Amarais, São Marcos e Santa Mônica,
entre outras. Em outras regiões novas redes precisam ser criadas e as Redes já
existentes podem ser incrementadas com novos participantes e novas práticas.
Assim os representantes dos equipamentos
públicos e sociais presentes em cada região como escolas e postos de saúde, com
seus diretores, professores, coordenadores e agentes, os gestores de ONG’s e
educadores sociais, os diretores de associações de moradores e demais
lideranças comunitárias locais, os líderes de todas as religiões bem como os
agentes de pastoral, os proprietários ou representantes de empresas que querem
desenvolver ações sociais junto à comunidade local e todas as pessoas de boa
vontade, podem e devem se organizar em Redes de Desenvolvimento Local. Essa
articulação trará ganhos fantásticos para a comunidade local e junto com milhares
de outras Redes, ajudará muito na construção de uma sociedade melhor, mais sustentável,
com mais justiça social, econômica, educacional, cultural e ambiental.
Adolf Deny Motter Florencio
Doutor em Ciências Sociais PUC SP
Mestre em Urbanismo PUC Campinas
Professor de Ética e Responsabilidade Social
Empresarial na CEA PUCC
Programa Rede Social Senac